São as raízes que amarram uma árvore ao solo e não deixam o vento arrancá-la. Assim acontece comigo que cultivo as minhas raízes para justificar a minha presença no mundo.
As palavras "pai incógnito" ou "filho natural" são como portas que se fecham sobre o nosso passado e não nos deixam ir mais além para conhecer a história dos nossos antepassados. E a falta de respeito pelos apelidos que eles usaram lançam uma nuvem que tudo obscurece.
A minha avó paterna Ana Maria foi registada com o apelido de Oliveira, mas era filha de uma mulher sem apelido nenhum - tinha sido colocada na "Roda" quando era bebé - e eu muitas vezes me pergunto quem será o responsável por esse apelido. A resposta que mais me ocorre é que o pai incógnito se chamava assim e a mãe quis que ela lhe ficasse com o apelido. Mesmo sem o pai a reconhecer como filha e o mundo nada saber sobre o assunto. Uma espécie de vvingançazinha feminina, que as mulheres, como sabemos, são o diabo em figura de gente.
Se me viro para o ramo materno da minha família, o avô da minha mãe era Sousa e também ela usou esse apelido, mas não o herdou do avô e sim da sua mãe que Sousa era também. A parte engraçada é que esse meu bisavô era filho de pai incógnito e a sua mãe só tinha o apelido de Martins. Onde foi ele buscar o Sousa então?
E mais vos conto ainda. O bisavô José João, era esse o seu nome de baptismo, teve muitos filhos e a todos deixou a herança de Sousa, venha lá o apelido de onde vier. Quatro dos seu filhos vieram aterrar aqui na Póvoa, o que justifica a minha vinda ao mundo, pois um deles engravidou a minha avó e depois pirou-se para França, de onde nunca mais voltou.
Este meu avô devia ser um homem de força, mesmo sem o conhecer sou obrigado a admirá-lo e prestar-lhe esta homenagem, aqui neste cantinho da internet (que ninguém lê, mas chega a todos os cantos do mundo) que eu reservei para falar dos que viveram antes de mim, as minhas raízes. E digo que ele era um homem e peras pelo que li nas entrelinhas do registo de baptismo do seu primeiro filho que recebeu o nome de David, como o pai da nação judaica.
A Maria Rosa que tinha uns apelidos, que me coíbo de mencionar aqui, a lembrar uma família cigana, conheceu o meu bisavô era ainda menor de idade. Isso não é defeito, nem doença contagiosa, por isso os dois foram-se enrolando, enrolando, até que ela ficou grávida. É muito natural, dirão os meus leitores, esses enrolanços, normalmente, acabam assim. Mas não é aí que está a piada, essa está no facto de ter sido o meu bisavô que levou o filho à igreja para ser baptizado.
E o pároco da freguesia também devia ser fresco para assar, pois perguntou ao pai da criança, sabendo-o solteiro, de quem era o filho e a que propósito era ele a vir baptizá-lo. Depois das necessárias explicações com que o meu antepassado o brindou, o pároco disse da sua justiça: - só te baptizo o filho se me prometeres voltar aqui com a mãe dele e te casares com ela.
E é aí que eu admiro o carácter do meu bisavô, um homem de palavra que, cumprindo a palavra que dera ao pároco da freguesia, lá voltou com a Maria Rosa para receber a sua benção. Se o filho dele, de seu nome António, tivesse seguido o exemplo do seu pai ... a minha avó Maria não teria morrido solteira!
Logo no início da leitura das suas raízes senti uma punhalada no peito que me impediu da absorção dos resto do texto. Apesar de o ler todo.
ResponderEliminarSou filha natural de um homem que mesmo reconhecendo a legitimidade de eu ser sua filha, se viu impedido de me perfilhar.
Tem toda a razão quando diz que há uma parte da nossa vida que fica mergulhada num espesso negrume, no meu caso, agravada pelo facto de minha mãe ter pegado em mim e na minha irmã e ter regressado à casa paterna, tinha eu 18 meses. Tivesse eu crescido na terra onde nasci - coisa que nunca lamentei - ter-me-ia dado ensejo de conhecer os avós paternos e os meios irmãos que nunca conheci.
Peço-lhe imensa desculpa, a ideia era comentar as suas Raízes, mas como poderia eu adivinhar que me ia pregar uma rasteira? :(
Assim nos vamos conhecendo aos poucos!
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